quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Debates ou concordância: o que você procura?

Um texto espetacular do David McRaney mostra que você pode dizer que gosta de ouvir pessoas com pontos de vista diferentes do seu mas, na verdade, você só procura a aceitação dos seus argumentos, nunca a refutação ou contra-argumentação. E pior de tudo: quando suas crenças mais profundas são desafiadas, você as defende mais ferrenhamente e ouve menos seu debatedor. É o que o autor chama de “backfire effect”: assim como você constrói um escudo a partir de toda a informação que confirme suas idéias, você também acaba ficando cego a contra-argumentos. O “backfire effect” te faz menos cético às coisas que te permitem continuar a ter sua atual visão de mundo como boa, ética, verdadeira. (aliás, já disse que esse texto é espetacular? Já, não é? Pois digo novamente. Clique no hiperlink e vá lê-lo depois).

Com tudo que expus acima, fica fácil de entender o comportamento das pessoas em geral na internet. Há um tópico de discussão genérico em algum lugar da internet. Suponhamos que é sobre o ensino ou não da “teoria da evolução de Darwin pela seleção natural” nas aulas de biologia. A pessoa que postou é contra o ensino, porque acha que a teoria da evolução é balela. Você vai lá e argumenta como é uma teoria unificadora na Biologia, central para o entendimento da distribuição e adaptações dos organismos e etc. Em 90% dos casos, o que acontece? A pessoa reconhece que estava errada, que você tinha razão, e resolve fazer Biologia para entender mais sobre este conceito tão fundamental? Provavelmente não. Provavelmente ela vai criticar suas fontes, ridicularizar sua formação e, por fim, usar o tipo mais comum de argumento nesse tipo de situação: o argumento ad hominem.

O argumento ad hominem é uma falácia ocorrida quando alguém ataca o autor de uma proposição, ao invés do seu conteúdo. É um argumento sem base lógica, apelativo, no qual quem o usa pretende ridicularizar o autor a ponto de descreditá-lo. É na discussão acima citada usar um “você acha que é necessário ensinar esta teoria da evolução porque você é biólogo, e na sua faculdade eles ficam contando essas historinhas absurdas de como os seres vivos surgiram”

(E eu sei, meu exemplo foi meio absurdo, mas conheço várias pessoas que acham que a teoria darwiniana não deva ser ensinada, ou não deva ser a “única”. Acreditem se quiserem.)

Como numa receita de bolo, podemos pegar nossa tendência a refutar argumentos que vão contra nossa visão habitual de mundo, acrescentar uma dose do tão recorrente argumento ad hominem e, por fim, cobrir com a possibilidade de não ter que encarar seu interlocutor frente à frente, não precisando lidar com a inconveniência de um olhar ofendido ou desapontado. O que temos (sem precisar de muito tempo no “forno”) é a maioria das discussões por meios virtuais.